Estudos Comparatistas da Literatura - Projetos de Pesquisa

ESTUDOS COMPARATISTAS DA LITERATURA

 

A obra epistolar de Goethe

Docente Responsável: Marcus Vinicius Mazzari

Este Projeto de Pesquisa diz respeito à epistolografia goethiana, envolvendo entre 1.200 e 1.300 correspondentes e compreendendo, segundo estimativas cerca de 25.000 cartas, das quais 15.000 estão depositadas no Arquivo Goethe e Schiller de Weimar. O significado que Goethe atribuía ao gênero epistolar pode ser aferido de uma observação que se encontra no volume Winckelmann und sein Jahrhundert [Winckelmann e seu século], que organizou e editou em 1805 após ter recebido 27 cartas inéditas de Johann Joachim Winckelmann (1717 1768) ao amigo Hieronymus Berendis (1719 1782): Cartas estão entre os mais importantes monumentos que o indivíduo pode legar. Pessoas de grande vivacidade imaginam muitas vezes diante de si, em seus solilóquios, um amigo ausente, ao qual elas comunicam seus sentimentos mais íntimos, e assim também a carta é uma espécie de solilóquio. Pois com frequência um amigo a quem se escreve torna-se muito mais o ensejo do que o objeto de uma carta.

 

Afropessimismo e falência da lógica narrativa: As consequências narratológicas da antinegritude

Docente Responsável: Marcos Piason Natali

O projeto de pesquisa propõe estudar uma parte da extensa bibliografia sobre racismo e antinegritude produzida nas últimas décadas pelo pensamento crítico negro, com ênfase em autoras e autores anglófonos. Têm destaque textos recentes associados ao conceito de Afropessimismo (de Frank Wilderson III, Saidiya Hartman, João Costa Vargas e Osmundo Pinho) e o debate sobre o Afrofuturismo e teorias críticas da raça. Também serão revisitadas obras mais antigas (de Toni Morrison, Frantz Fanon e W. E. B. Du Bois) que são referências importantes às discussões contemporâneas. Tanto no caso das obras ficcionais quanto no dos textos teóricos, o objetivo é entender melhor como a escravização e a violência antinegro afetam a própria possibilidade de narrar. Diante de impasses às vezes associados a uma suposta falência da lógica narrativa, a questão fundamental do projeto é o que o legado da escravidão deixa como tarefa para a interpretação (como colocado por Aida Levy-Hussen) e para a "fabulação crítica" (na expressão de Saidiya Hartman). Espera-se com isso compreender melhor os modos como essa tradição crítica diaspórica pensa os limites do humanismo, as contradições dos discursos de inclusão e a importância da espetacularização da violência para a reprodução da morte social.

 

Corpo e Trabalho na Cultura Brasileira Contemporânea (Literatura e Cinema)

Docente Responsável: Ana Paula Pacheco

Considerando a ditadura militar brasileira como marco inaugural do tempo brasileiro contemporâneo (Paulo Arantes, O novo tempo do mundo), o o projeto investiga linhas de força do presente formalizadas em diferentes campos artísticos (cinema e romance). Partindo de adaptações para o cinema de romances modernistas feitas durante o período da ditadura, estuda-se, primeiramente, o fim do projeto moderno no campo artístico brasileiro, em relação com o fim do projeto de formação da sociedade e do país, no campo político. A seguir, a pesquisa se atém a obras específicas que marcam diversos momentos contemporâneos, da ditadura ao presente. Assim, propõe-se a investigação: 1) dos modos específicos de inserção de um conjunto de obras na dinâmica interna do processo cultural brasileiro, 2) dos modos de questionamento, pela cultura, de ideias reguladoras da “formação nacional” num quadro avançado de “mundialização” da arte, do capitalismo e seus modos de vida, em especial, do neoliberalismo entranhado na subjetividade. Obras centrais nesse percurso de pesquisa são: os filmes Terra em transe (1968), Iracema — uma transa amazônica (1974), Cabra marcado para morrer (1984), Os inquilinos (2009), Na vizinhança do tigre (2014), Branco sai, preto fica (2015), os romances Pessach: a travessia (1967), Em câmera lenta (1977), Três mulheres de três PPPês (1977), O nome do Bispo (1985), Cidade de Deus (1997), Pornopopeia (2009).

 

Diálogo epistolar de Osman Lins com escritores e intelectuais brasileiros

Docente Responsável: Sandra Margarida Nitrini

Esta proposta mantém conexão viva com outros projetos já desenvolvidos, p. ex., "Osman Lins, leitor e professor de Literatura Brasileira", retoma fios soltos de um projeto ainda mais antigo, voltado para os bastidores da criação, da "escrita do eu", da correspondência de Osman Lins com Hermilo Borba Filho. Recentemente, a leitura dessa mesma correspondência em função do atual projeto encetou o encontro de informações valiosas para a compreensão da trajetória de Osman Lins como professor de Literatura Brasileira em Marília. Hermilo Borba Filho o acompanhou de 1970 a 1976, por cartas, desde o momento em que se apresentou para ele a oportunidade de ir lecionar na Faculdade para Marília até o desagradável desfecho. Essa troca entre os dois revela o profundo compromisso de Osman Lins com a literatura brasileira: ele se prestou a exercer a função de professor, como militante da literatura brasileira, para transmitir, aos alunos, sua paixão por ela em tempos de grande voga do estruturalismo e do formalismo russo. Apesar de essa correspondência ter cumprido bem sua função em dois projetos anteriores, há muito ainda a ser explorado na mesma, não só quanto ao diálogo entre esses dois escritores sobre suas respectivas obras, sobre o que um pensa sobre a obra do outro, sobre o problema da circulação das obras literárias, sobre a problemática relação de ambos com seus editores, mas também sobre a situação política do Brasil e do mundo e sobre o papel do escritor na sociedade. Trata-se pois de um material precioso para se compor o chão cultural dos anos de 1960 e 1970, em que a voz de Osman Lins ressoava nos jornais, em entrevistas, com sua análise crítica dos problemas "inculturais" brasileiros. Para dar mais solidez à busca de composição do chão cultural em que se movimentou Osman Lins e tentar definir seu lugar na literatura brasileira, necessário se faz ampliar o estudo da rede de relações literárias e intelectuais do autor. Por isso o corpus deste projeto contemplará, além da correspondência de Osman Lins com Hermilo Borba Filho, seu acervo de epistolografia depositado no Fundo do Osman Lins, no Instituto de Estudos Brasileiros da USP, com a perspectiva de ser complementado com o que se encontra na Casa de Rui Barbosa.

 

Professor-Personagem

Docente Responsável: Caio Márcio Poletti Lui Gagliardi 

O objetivo do projeto é analisar, em um amplo corpus ficcional situado na modernidade, a personagem do professor segundo quatro perspectivas complementares: 1. O professor sob suspeita; 2. O professor e as instituições totais; 3. O professor como personagem humorística; 4. O professor como agente de investigação do passado.

 

Um Estudo da Relação entre Lírica e Natureza Morta

Docente Responsável: Betina Bischof

A pesquisa tem por objetivo estudar a Lírica em comparação com outra modalidade de arte – a pintura, ou, num recorte mais específico, a pintura de Natureza Morta (em primeira instância, nos pintores dos Países Baixos no século XVII). O estudo, com base na história e na tradição pictórica e literária tem como objeto principal o debate acerca da gênese dessas duas modalidades. Tema fundamental será a constituição de um fechamento ou recuo (seja do eu lírico, seja dos objetos representados na pintura) a um lugar que se dá a apreender como espaço da interioridade. Assim, a partir da relação entre poesia e imagem, tema fundamental desde as discussões sobre a Ekphrasis antiga, buscaremos iluminar, no exercício comparativo, o corpus teórico-crítico sobre Lírica e sobre pintura, no recorte proposto. Detalhando um pouco mais, o estudo do assunto abordará dois pontos principais: a fratura entre sujeito e objeto na Lírica e na Natureza Morta; e a possibilidade de que se veja a apresentação fechada dos objetos de natureza morta no recinto burguês como uma espécie de eco do recuo do eu lírico em relação a um mundo hostil, que se imprime em negativo sobre a composição. O pressuposto que norteia a pesquisa é o de que, se esses dois pontos podem ajudar a pensar o contexto do surgimento da Lírica Moderna e da Pintura de Natureza Morta, eles parecem igualmente capazes de articular a reflexão em torno a alguns impasses da Lírica moderna e contemporânea, que será estudada a partir de um foco similar (unindo igualmente forma, expressão e história).